domingo, 13 de setembro de 2009

Estou sentado no escuro no assoalho,
vendo no tempo uma linha de formigas,
carregando os pedaços de minha vida,
para um formigueiro que nem sei a onde é que fica.

Nesses pedaços eu vejo momentos,
mutilados fora de seus dias.
Nesses momentos eu vejo rostos,
mutilados fora de seus corpos.

Eu vejo no fim da fila um buraco fundo,
que os insetos adentram para o fim do mundo,
ampulhando os grãos de minha vida,
vida minha que foi deserto.

Eu me pergunto a onde está você agora.
Por entre alguma das pinças de quitina,
ou escaldando nas areias do meu Saara?

Eu me pergunto o que será de nós agora,
que o desapego desta hora,
assim não muda o que eu sinto agora.

Sou caminho sem destino,
ou Portugal sem caravela,
sou labirinto quando você chora.

O clássico "desculpa de aleijado é muleta"

Quantos brasileiros possuem sonhos ufanistas? Quantos sonham, como eu, com uma fama política, ser sinônimo de honestidade e competência, como se pudesse um dia ser o próximo nome lembrado na história como um dos grandes líderes da humanidade? Quantos mais querem seu legado escrito em livros de história e não em estúpidas revistas que vendem a fama de músicos, cantores, esportistas e modelos vulgares que para nada de real servem para as próximas gerações deste país e do mundo?

Nossas atuais celebridades, ícones no Brasil, são em sua imensa maioria ridículos fetiches sexuais que quase todas as pessoas parecem cobiçar. O sóbrio líder político em seu terno negro e cabelos brancos não parece despertar a atenção de uma mídia promíscua que vende a imagem do corpo, não do homem, perfeito. Faz-nos querer ser como uma top model estúpida ou um charlatão ator e não como um ser humano firme. Enche o coração do brasileiro de obscenidades e não o cativa para a cidadania, gerando esta sociedade burra e estuprada.

Quantos de nós numa multidão orgulha-se de expor em seu peito, seus objetos, a flâmula nacional, ostentando o orgulho por sua pátria, como se lamentasse pela sina daqueles que aqui não nasceram. Utopia minha isto seria se não fosse o que é visto em países consagradamente bem-sucedidos.

O brasileiro médio ri e condena-se ao rir de “nacional”, não vendo ser exatamente este o remédio para os problemas do país. É exatamente deste tipo de humor doentio que se alimentam todos os vírus das doenças que padece este país. É por não amar que tolera assistir sua pátria, sua vida, ser estuprada por tantas formas de abuso. Individualiza para si tais problemas e sonha em driblá-los, não resolve-los. Uma casa na Europa, um salário em dólar, “eu te amo” em outra língua.

Quem nos estupra é quem vemos no espelho. Sofremos pelo sofrimento que nós nos afligimos, não por um que apenas permitimos. O Brasil foi se foder e quem mandou foram os brasileiros.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

A Crise Existêncial como condição de Existência

Reclamo, logo existo. Afinal se pensar é a condição de existir, defina-me, então, pensar. Na indefinição do pensar, como definir a existência como tal? A resposta filosófica para uma dúvida filosófica é outra incógnita filosófica? Fácil resolver desta forma um problema, que se visto como matemático torna-se xERx = y*. Não é preciso nenhum tipo de brilhantismo matemático para saber que, se x = y, tanto faz x ou y em sua equação existencial. Explicando: se a condição de existência humana é pensar e na ignorância do ser do ‘pensar’, ‘existência’ continua igual a uma questão necessitando explicação.

Por outro lado, em termos humanos, ao contrário da matemática, nem tudo igual à outra coisa tem seu inverso também válido. Ou seja, x = y, sim, mas não y ≠ x. Por extenso, o que pensa, existe, mas nem tudo que existe, pensa. (Ironizando, nem todos que existem, pensam.) Então se a condição para a existência humana é o pensar de forma humana, o que é pensar, ainda mais como um humano?

O que todos os seres de nossa espécie têm em comum? Pensamos de formas diferentes, a respeito de coisas diferentes. Somos homens e mulheres, capitalistas e comunistas, honestos e corruptos, merecedores da e vida e indignos da mesma. Único fator formulado na mente humana, ‘pensado’, comum a todo indivíduo humano é a reclamação. Em nossos desejos, à parte fisiológicos, somos todos iguais na reclamação. Reclamamos, inclusive, do que nos leva à existência, fato não comparado pela natureza clássica. Talvez reclamar, não pensar, seja a condição de existência humana. Não reclamar de dor ou fome, como um cão, mas reclamar de algo abstrato, como a existência.

Talvez apenas a importância a fatores que não alterem a ordem natural da vida e sua indagação caracterizem a existência humana. Poderíamos reclamar da letal fome, como um animal, mas pensamos, também, a respeito de nossa existência que mesmo se gerada uma resposta, não parece driblar a morte ou perpetuar a espécie, instintos naturais básicos a todos os seres vivos.

Sim, penso, logo existo; mas reclamo, como humano, logo penso, como humano, logo existo, como humano.

Alguns indivíduos parecem não pensar de forma popularmente aceita como inteligente, mas todos em algum momento de suas vidas param para pensar, seu propósito, de onde viemos, em uma crise existencial. É comum ao ser humano reclamar de fatores não relacionados à sua existência como ser vivo, mas como indivíduo próprio dotado de algo, por falta de termo melhor, chamado alma. Talvez isso nos separe dos demais animais e esta crise caracterize a existência dada por “humana”.

* (x pertence aos números reais tal que x igual à y)